Por vezes é preciso mudar o que parece não ter mesmo solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último autocarro no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e deitar tudo fora, queimar cartas e fotografias,apagar e-mails e mensagens, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, passar uma borracha na memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, cada sorriso e cada gargalhada, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.
Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio, respeito , paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar.
Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia é a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira.
Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer.
